sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Seção I – Arquivos históricos da sede urbana de Três Marias


Assim como os outros bens culturais da sede urbana, os três arquivos inventariados representam também o processo de consolidação do antigo Barreiro Grande na cidade de Três Marias, sendo todos eles iniciados na década de 1960.

O mais antigo dos acervos documentais inventariados nesta seção pertence ao Cartório de Três Marias. Na realidade este não foi o primeiro cartório do município, uma vez que o cartório de Registro Civil do Distrito de Andrequicé data do final do século XIX. Foi e é, contudo, o primeiro e único cartório a se estabelecer na cidade, sendo administrado por sua primeira tabeliã Senhora Ivanilde Ana dos Santos até a época do inventário.  Com documentos que datam de 1963 até a atualidade, o acervo abriga registros de nascimentos, óbitos, casamentos e outros documentos civis.


Os outros dois arquivos são provenientes do trabalho de duas instituições: a Paróquia de Nossa Senhora Mãe da Igreja e o Instituto Educacional Barreiro Grande – IEBG. A formação do arquivo da Paróquia ocorre com o estabelecimento das primeiras atividades paroquiais e, por isso, conta com documentos que se iniciam em 1965, quando a mesma é criada, e vão até a atualidade. Já o arquivo do IEBG tem início no ano de 1989, quando a escola começou a funcionar com a primeira série ginasial e o primeiro ano do curso normal.




quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Seção I – Sítios Naturais e Conjuntos Paisagísticos da Sede Urbana de Três Marias

A importância simbólica dos sítios naturais e conjuntos paisagísticos inventariados na seção I, compreendida pela sede urbana, transbordam os aspectos ambientais e naturais e invadem a vida cultural do município projetando a identidade ribeirinha que hoje representa a cidade de Três Marias em âmbito local e nacional. Neste contexto, o Rio São Francisco e o Lago de Três Marias destacam-se como os bens que melhor representam esta identidade, sendo vistos por muitos habitantes de Três Marias como o patrimônio cultural mais importante do município, uma vez que a origem da cidade estaria diretamente ligada à construção da barragem em seu leito.

Com seu fluxo controlado pela presença da barragem, o “Velho Chico” como é conhecido, apresenta vazão média de 707 metros cúbicos em Três Marias e delineia o limite do município de Três Marias com São Gonçalo do Abaeté. A ligação entre ambos os municípios é feita pela ponte da rodovia BR-040 que transpõe as águas do Velho Chico, a ponte foi inaugurada em 1957, tendo sido construída em paralelo à construção da barragem de Três Marias.

Já, o Lago da Represa, também conhecido carinhosamente como “Mar de Minas”, apresenta um reservatório composto por cerca de 21 bilhões de metros cúbicos de água e 1.040 quilômetros quadrados de superfície.  Constituído após a finalização da Barragem de Três Marias, em 1961, o Lago é o resultado direto de um grande projeto que tinha como principais objetivos represar as águas do Rio São Francisco para  controlar enchentes, melhorar as condições de sua navegabilidade e produzir energia elétrica.

No entanto, ao longo do tempo, se viu que o impacto social e ambiental da formação do lago gerou outros resultados muito importantes para a história local, tais como o estímulo ao turismo, ampliação da atividade pesqueira, modificações climáticas microrregionais e valorização das terras do entorno.

Em 2006, ano do inventário, a preservação ambiental do Rio São Francisco e do Lago era colocada como um grande desafio que dependia tanto da conservação de toda a bacia hidrográfica localizada à montante da represa quanto do uso sustentável das suas margens. Este desafio continua e ganhou novos contornos com a ampliação do parcelamento e comercialização de terras nas margens do Lago, expansão das áreas de monocultura do eucalipto sobre as nascentes e veredas, poluição advindas da atividade industrial e da ocupação urbana não planejada, entre outros problemas que, de certa forma, também estão descritos nas fichas de outros bens culturais que compõem este grupo, tais como os córregos Barreiro Grande, Buritizinho e Seco e a vereda denominada no inventário como Veredão.

Estes bens encontravam-se em elevado estado de degradação no momento do inventário. Os córregos Buritizinho e Seco são tributários do Córrego Barreiro Grande e todos eles sofrem forte exposição a diferentes fontes de poluição, uma vez que passam dentro do centro urbano de Três Marias.

Uma situação similar acontece com o Veredão que, em 2006, sofria com o uso e ocupação do entorno do sítio natural e desrespeito à suas margens legalmente instituídas como de preservação permanente. No inventário, também foi identificado que em alguns pontos a vereda é usada como local de abastecimento de água e dessedentação de animais o que ameaçava a qualidade e quantidade de água e consequentemente a preservação da vegetação no local. Além disto, a BR-040 representa um impasse ao desenvolvimento do Veredão, principalmente por não haver sido feito um sistema de drenagem ou transposição da vereda quando da construção da rodovia. Cabe indicar que em seu baixo curso os prolongamentos do Veredão se encontram formando o Córrego da Cascata das Virgens, à jusante do ponto em que é cortado pela BR-040. Neste córrego, se encontra a bela Cascata das Virgens, sítio composto pelo conjunto de duas quedas d’água naturais também inventariadas em 2006. A primeira delas, mais a montante do córrego, possui cerca de 8 metros de desnível, um poço pequeno e pouco profundo à jusante, a segunda queda se dispõe ao longo de uma escadaria natural.

Existem ainda dois outros bens culturais que fazem parte deste grupo e combinam com a paisagem contemplativa do entorno do Lago com a ocupação urbana gerada pela aglomeração de milhares de pessoas na cidade. Um deles é conhecido como Pedra do Mirante, ponto de visitação e apreciação da vista do Lago da Represa de Três Marias. Este local é uma referência turística para a cidade, sendo de grande representatividade para os moradores de Três Marias.

O outro é o famoso Morro do Cruzeiro que configura mais um mirante da cidade de Três Marias e entorno onde se localiza um cruzeiro. O belvedere formado por este sítio natural também integra a paisagem contemplativa do Lago com a cultura local criando um marco religioso que atrai peregrinos todo ano. Segundo a crença popular, em épocas de estiagem deve-se subir o morro com pedras e água e deposita-las na base do cruzeiro de modo a chamar chuvas.










terça-feira, 4 de novembro de 2014

Bens Culturais da Seção II – Distrito de Andrequicé

O município de Três Marias, apesar de possuir uma grande extensão territorial, é formado por apenas dois distritos: Sede e Andrequicé. Estes dois distritos apresentam formações históricas bastante diferenciadas e significativas. Na seção I, tratamos do patrimônio cultural da Sede Urbana. Agora, passaremos a analisar a sede distrital de Andrequicé, que compõe a seção II e teve 18 bens culturais inventariados em 2004, dos quais 16 foram autorizados pelos seus responsáveis para serem divulgados nesta publicação.

Atualmente conhecida como “terra de Manuelzão e Guimarães Rosa”, o distrito de Andrequicé ficou relativamente apartado da enorme transformação ocorrida no antigo Barreiro Grande a partir do barramento do rio São Francisco nos anos 60. Este distanciamento geográfico das margens do São Francisco e do Lago que ali foi criado propiciou a preservação de bens culturais materiais e imateriais que versam sobre a cultura e história dos últimos três séculos de ocupação dos sertões das Gerais.

Neste sentido, acreditamos que a singular vida sertaneja foi ali preservada em diversos aspectos. Tema da literatura de diversos escritores, com destaque para Guimarães Rosa, que encontrou em Andrequicé “pessoas encantadas” que o conduziriam em 1952 por uma viagem que marcou definitivamente suas produções literárias, a vida sertaneja se manifestou e se manifesta ali de forma material e imaterial, contribuindo para a formação de inúmeros bens culturais, dos quais apresentaremos aqui dezesseis. Para facilitar a compreensão da importância simbólica destes bens, agrupamos os bens inventariados nesta seção em dois conjuntos:

1)    Acervo religioso da Capela de Nossa Senhora das Mercês
2)    Andrequicé: história e cultura do sertão das Gerais



segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Seção II - Acervo religioso da Capela de Nossa Senhora das Mercês

O primeiro grupo refere-se especificamente aos bens ligados à cultura religiosa católica que é representada pela Capela de Nossa Senhora das Mercês e pelo seu acervo de bens móveis.

Tombada como patrimônio cultural municipal em 2010, a Capela de Nossa Senhora das Mercês é um bem cultural que concentra interesse histórico, estilístico e religioso na sua materialidade, além de servir como local de guarda de um importante acervo de imagens, móveis e outras peças sacras. Mesmo com esta importância, a história da Capela ainda não foi completamente desvendada, sendo objeto de interesse de diversos pesquisadores que ainda vão precisar garimpar documentos em arquivos de Três Marias, Felixlândia, Curvelo, Corinto, Diamantina e Belo Horizonte para esclarecer melhor a trajetória da Capela desde sua criação até os dias de hoje.

Na realidade, a tradição oral indica que a construção da capela estaria ligada ao falecimento repentino do diamantinense José Pereira da Rocha, que se encontrava de passagem pela região do atual Distrito, tendo sido enterrado em Andrequicé. O irmão do falecido, Pedro Pereira da Rocha, era padre e para homenagear o irmão, teria mandado erguer uma capela no local onde ele fora enterrado. A partir de então, os filhos de José Pereira, para ficarem perto do corpo do pai, acabaram se estabelecendo em fazendas próximas à região, lá desenvolvendo grandes plantações e criação de gado.

Reza a tradição que a referida capela corresponderia a atual Capela de Nossa Senhora das Mercês e que a sua construção teria se dado em 1725, posto que nas suas proximidades teria sido encontrado um pedaço de tronco de aroeira onde estaria gravada a referida data. No entanto, não há nenhum documento que demonstre a veracidade da história regularmente narrada pelos moradores de Andrequicé e tampouco que comprove a data exata da edificação da atual capela.

Existe, todavia, algumas evidências que apontam que a construção da Capela de Nossa Senhora das Mercês seria, na realidade, posterior ao primeiro quartel do século XVIII. Uma destas evidências é a própria forma como o templo foi implantado no plano urbano de Andrequicé, ou melhor, a capela se encontra em um plano inferior ao do casario, com sua parte traseira voltada para as casas, remontando uma configuração espacial que não corresponderia ao padrão utilizado nas antigas vilas e vilarejos de Minas Gerais e que poderia ser interpretada como um indício que a construção da capela não precedeu à construção das edificações mais antigas do distrito.

Nos levantamentos feitos por ocasião da elaboração do Dossiê de Tombamento da Capela, vê-se que o templo passou por inúmeras transformações ao longo do século XX. Dentre as principais modificações observadas pelos moradores mais antigos do Distrito, destacam-se: a eliminação do gradil frontal, feito em madeira, do “pregoador” (SIC) de leilão (um quadrado alto que ficava ao lado das barraquinhas) e da torre, construída em 1946. Esta última teria caído porque os porcos, criados pelos moradores do Distrito, cavaram buracos na sua estrutura, levando a sua deterioração. O sino da igreja foi retirado na ocasião da queda da torre. O piso da igreja também teria sido substituído, passando do tijolo para cerâmica. Esta última também substituiu o antigo piso de madeira que revestia o altar. Acreditam os moradores que esta transformação do piso tenha ocorrido por volta dos anos de 1970. Pela coincidência das datas, concluímos que se trata da reforma levada a cabo pelo padre Geraldo Vieira Gusmão.

Cabe indicar que, além da importância histórica e estilística, a Capela é um templo com intensa movimentação religiosa, que abriga entre outras atividades a festa em devoção a Nossa Senhora das Mercês celebrada todos os anos no mês de setembro.

Desenvolvido de maneira concomitante com o inventário da Capela, em 2004, também foram produzidas fichas sobre parte do acervo de bens móveis da Capela. Este acervo é singular e concentra as peças mais antigas da imaginária e do mobiliário do município, sendo eles a Imagem de Nossa Senhora das Mercês, a imagem de São Sebastião, o Divino Espírito Santo e a antiga “mesa de encostar”. Ainda não foi possível datar todas estas peças, mas sua confecção em madeira e seus traços estilísticos revelam que elas foram produzidas em diferentes momentos históricos, sendo que, provavelmente, a mesa de encostar seria o mais antigo deles. Vale indicar que este móvel apresenta uma talha erudita e discreta que permitem que a peça seja identificada  como do estilo Dom José I, que reinou em Portugal na segunda metade do século XVIII.

Já a imagem de Nossa Senhora das Mercês desponta como a peça de maior valor simbólico religioso do acervo. Imagem de roca ou de vestir, suas características técnicas e estilísticas nos levam a acreditar que esta escultura foi produzida por um artista que transitava entre a cultura popular e erudita. Colocada no principal posto do altar-mor da capela, além de ficar exposta permanentemente no templo, a imagem acompanha as procissões na Festa dedicada a Nossa Senhora das Mercês e exerce uma função social e simbólica na comunidade que a projeta como o bem cultural móvel de maior apreço para os habitantes de Andrequicé.

A imagem de São Sebastião, por sua vez, apresenta uma composição que nos possibilita interpretar que o artista responsável pela obra tinha conhecimentos técnicos avançados e eruditos, uma vez que ele se mostrou capaz de produzir todo o corpo da imagem, representado por uma figura masculina semidesnuda, em apenas um bloco de madeira inteiriço. Após a restauração em 2002, revelou-se a rara presença de um manto azul que envolve o ventre da imagem. Documentos acessados durante o inventário,  mostram que esta é uma característica da pintura original da imagem e que, como antes da restauração, a peça estava encoberta por duas repinturas na qual o perizônio, nome técnico dado a este manto ventral, era coberto pela cor vermelha, seguindo um padrão bastante recorrente nas representações de São Sebastião. Relatos coletados durante o inventário apontam que esta descoberta gerou certa polêmica na comunidade quando a peça retornou do processo de restauração. Alguns chegaram até mesmo a questionar se esta era a peça originalmente encontrada em Andrequicé. Outros defendiam que, por motivos tradicionais, o perizônio deveria retornar à cor vermelha. Após os debates, optou-se por manter as características originais do manto azul e a imagem de São Sebastião voltou a ocupar o seu merecido lugar na capela e no universo cultural da população local.


A imagem do Divino Espírito Santo é outro bem inserido no acervo inventariado da Capela de Nossa Senhora das Mercês. Por apresentar traços escultóricos mais simplificados, a peça poderia ser reconhecida como de feitura de cunho “popular”, remetendo à imagem do Divino Espírito Santo através de uma pomba de asas abertas dentro de um resplendor. Objeto de grande estima comunitária, após a restauração em 2001 ficou provado que, ao contrário do que muitos pensavam, a peça não é de gesso, mas de madeira e metal. Vale indicar que na região existem diversas menções à devoção ao Espírito Santo: nome da praça no qual se encontra a Capela de Nossa Senhora das Mercês e nome de uma antiga fazenda e posto fiscal colonial situada nas proximidades de Andrequicé. Estas referências nos fornecem indícios que a existência desta imagem pode estar associada a uma tradição antiga de devoção ao Espírito Santo.






sábado, 1 de novembro de 2014

Seção II – Andrequicé: história e a cultura do Sertão das Gerais

Além do belo acervo religioso existente em Andrequicé, foram autorizadas a divulgação de outros 11 bens culturais que remetem a história local e a cultura do sertão das Gerais, sendo estes: sete são bens imóveis, dois arquivos e dois sítios naturais. 

Os sete bens imóveis encontram-se dentro da área urbana do distrito de Andrequicé, sendo seis edificações e um cemitério. Apesar de serem originárias de diferentes épocas, as seis edificações apresentam diversas semelhanças tais como: pavimento único, ausência de muros e presença de quintais. Acreditamos que estas características revelam o processo de formação do espaço urbano de Andrequicé dentro do ambiente sertanejo que se consolidou nos séculos XIX e XX, ou seja, a tipologia das edificações demonstram a forma como o sertanejo local configurou seu espaço urbano.

Dentre as seis edificações, destacaremos duas: a Pensão da Dona Olga e o Memorial Casa de Manuelzão. A Pensão da Dona Olga seria, segundo fontes orais, a edificação mais antiga de Andrequicé. Sua construção remete à primeira metade do século XIX, quando o imóvel foi levantado por ordem de Alexandre Oliveira, patriarca de uma das famílias mais tradicionais de Andrequicé. Sabe-se que esta edificação já teve diversos usos ao longo de sua história, sendo ocupado como residência, venda, correio e especialmente como pensão, função que preserva até a atualidade. Implantado em um espaço privilegiado na paisagem arquitetônica do Distrito, a Pensão da Dona Olga é, hoje, um dos pontos de referência mais importantes para os moradores e para os visitantes que passam pelo local.

O Memorial Casa de Manuelzão também pode ser visto como outro importante ponto de referência da cultura local. Esta casa de aparência simples foi à última residência de Manuel Nardi, o Manuelzão, quando este parou de trilhar os caminhos de tropeiro pelo Brasil. Alguns anos após sua morte, em 05 de maio de 1997, a casa passou a fazer parte do Memorial Manuelzão, no qual se pode conhecer um pouco de como era a vida cotidiana deste sertanista que seduziu Guimarães Rosa com seus “causos” e sabedoria.

O imóvel é composto por duas edificações distintas, além de elementos físicos e simbólicos como o forno junto à Casa de Arreios, a horta e o jardim que circunda as edificações. Originalmente, a edificação era dividida em sala, copa, dois quartos, banheiro, cozinha e varanda de serviço, com fogão a lenha e área de serviço. O projeto de restauração do espaço, realizado no ano 2001, manteve a mesma configuração original, inclusive reconstruindo o fogão a lenha que havia sido demolido, adaptando, entretanto, o banheiro a uma central de controle e quadros de distribuição para atender às necessidades do futuro museu. Os demais cômodos receberam layout para exposição de peças do acervo do Memorial.

Tombada como patrimônio cultural de Três Marias desde 2003, a preservação da Casa de Manuelzão desencadeou um processo de sensibilização para a cultura local que modificou a vida dos habitantes de Andrequicé. O destaque deste processo é a realização da Semana Cultural Festa de Manuelzão que, em 2014, alcançou sua 13ª edição e conta com uma vasta e rica programação cultural. Aberto durante todo ano, o Museu Manuelzão atrai turistas de diversas partes do Brasil e do mundo, especialmente aqueles que buscam encontrar o sertão que inspirou as obras de Guimarães Rosa.

Existem ainda outras quatro edificações de Andrequicé que foram inventariadas e autorizadas a divulgar. Duas teriam origem no século XIX e outras duas em meados do século XX. As mais antigas seriam as residências de Dona Elisa e a residência do senhor Raimundo que apresentam estrutura de madeira e técnicas mistas de alvenaria, através das quais se percebe que as paredes mais antigas são de pau-a-pique e as mais recentes de adobe ou tijolos queimados .As outras duas edificações são as residências de Dona Fia e Dona Lila que apresentam alvenaria de tijolos queimados. Ambas as edificações foram habitadas por personagens significativos da história local, sendo que na residência de Dona Fia morou o vaqueiro Zito que participou de uma das viagens de Guimarães Rosa pelo sertão mineiro. Já a residência de Dona Lila é provavelmente a mais recente de todos os bens inventariados no local, tendo sido construída por volta de 1960 por Manuel Nascimento Filho, renomado político do Distrito de Andrequicé que exerceu três mandatos como vereador e um como vice-prefeito.

Além das citadas edificações, este grupo apresenta o inventário do cemitério de Andrequicé. Este bem representa, de certa forma, a consolidação do Distrito como referência para um grande território que o circunda, atraindo os sepultamentos de moradores de todo o seu entorno. Através de fontes orais, é possível inferir que o primeiro cemitério do Distrito se encontrava próximo da Capela de Nossa Senhora das Mercês e que o cemitério inventariado teria sido criado há aproximadamente cem anos, após uma doação de terras feito por Carlos Alexandre de Oliveira. Na década de 1980, o cemitério passou por uma ampliação ganhando os contornos atuais.

Como mencionado, este grupo apresenta ainda mais quatro bens culturais: dois arquivos e dois sítios naturais.

Os arquivos mostram a evolução histórica local através de documentos cartoriais e de documentos relativos a registros escolares da Escola Estadual Carlos Alexandre de Oliveira.

Um dos arquivos mais significativos da história de Três Marias pertence ao Cartório de Registro Civil e Notas de Andrequicé que possui livros de registros que data de 1891 até a atualidade, nos possibilitando conhecer os atos cotidianos da população de toda região, tais como os nascimentos, óbitos e casamentos. Já o arquivo da Escola Estadual Carlos Alexandre de Oliveira são datados de 1962 até a atualidade, sendo que somente após 2001 os registros escolares passaram a ser organizados e preservados de maneira sistemática.

Encerrando o grupo, chega-se às duas cachoeiras que compõe os sítios naturais inventariados dentro da seção II. Situadas fora da zona urbana de Andrequicé, as cachoeiras do Riachão e do Guará são bastante conhecidas e visitadas por turistas e moradores de Andrequicé. Acreditamos que ambas representam um enclave ecológico em área tomada pelo desmatamento, por pastagens e pela monocultura do eucalipto e sua preservação deve ser acompanhada por um processo educativo e de sensibilização da população local e dos responsáveis pelas terras que lhes dão acesso.






















sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Bens culturais das seções III e IV – zona rural de Três Marias

As seções III e IV são formadas pelas áreas da zona rural de Três Marias, sendo que a seção III remete as comunidades das Pedras, Silga e Forquilha dos Cabral e a seção IV trata dos bens existentes dentro de fazendas e sítios que encontram-se dispersos por todo sertão trimariense.

No total, foram feitas 76 fichas de inventário de bens culturais existentes nestas duas seções, sendo que 16 pertencem a seção III e 60 a seção IV. Destes bens, 69 foram autorizados a serem divulgados. Buscando facilitar a compreensão destes bens, reagrupamos os bens destas seções em 07 conjuntos que foram delineados pela categoria e localização destes bens.

Estes conjuntos são:
1)    Capelas e imagens inventariadas na zona rural de Três Marias 
2)  Bens culturais imóveis dos povoados das Pedras, Silga e Forquilha dos Cabral
3)    Sedes de fazendas da zona rural de Três Marias
4)    Bens móveis e integrados da zona rural de Três Marias
5)    Veredas da zona rural de Três Marias
6)    Outros sítios naturais da zona rural de Três Marias
7)    Bens imateriais da zona rural de Três Marias






quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Seção III e IV – Capelas e imagens inventariadas na zona rural de Três Marias

No grupo que se segue, reunimos todas as capelas inventariadas e autorizadas para divulgação nas seções III e IV, sendo no total cinco templos. Três destes imóveis estão situados dentro dos povoados das Pedras, Silga e Forquilha dos Cabral, um próximo da comunidade da Silga e outro dentro da fazenda da Tolda.

Inseridas na seção de inventário III, encontram-se as Capelas de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Povoado das Pedras), a Capela de Nossa Senhora Aparecida (Povoado da Silga) e Capela de Nossa Senhora da Conceição e São Geraldo (Povoado de Forquilha dos Cabral). Estes imóveis foram inventariados no ano de 2007 e representam bens arquitetônicos de grande importância simbólica e afetiva dentro das comunidades, sendo vistos como centros irradiadores da ocupação e da história destes povoados.

Através das pesquisas realizadas para o inventário, verifica-se que a mais antiga destas capelas é a de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, construída em 1967. Ao passo que as outras duas capelas citadas foram construídas na década de 1990. Especificamente sobre a Capela de Nossa Senhora da Conceição e São Geraldo, sabe-se que a primeira capela do povoado foi feita na década de 1930, mas que este antigo templo passou por várias reformas até ser totalmente demolida e reconstruída da forma como hoje se encontra. Os processos para construção, reforma e constituição do patrimônio destas capelas é bastante similar e envolve doações, realizações de eventos para arrecadar fundos, entre outras ações que mostram que estes templos são resultados de uma ação coletiva que mobiliza os moradores locais em torno da promoção da religiosidade católica.

As outras duas capelas possuem características bem diferenciadas das relacionadas acima, pois são imóveis bem pequenos que seguem traços tradicionais, tal como o emprego de peças de madeira em sua estrutura. Uma destas capelas encontrava-se em ruína quando foi inventariada, sendo ela a antiga Capela de Manuelzão que foi totalmente reconstruída pouco tempo depois da realização do inventário. É importante relatar que a motivação para realização desta obra está, em grande parte, ligada à consolidação da Semana Cultura Festa de Manuelzão, uma festa literária que teve como motivação inicial a promoção em âmbito local e regional da literatura sertaneja de Guimarães Rosa.

O outro templo inventariado na zona rural de Três Marias é a Capela da Tolda. Erigida provavelmente em 1953/1954 por Thieres de Souza Vieira, proprietário da Fazenda São José, esta Capela tem uma história eminentemente familiar, sendo construída no entorno de cemitério implantado para abrigar os falecidos da família Souza Vieira.

Além das capelas apresentadas, inserimos neste grupo três imagens sacras que foram inventariadas nas seções 3 e 4. A primeira delas é a Imagem de São Geraldo que pertence à Capela de Nossa Senhora da Conceição e São Geraldo do Povoado de Forquilha dos Cabral. Esta imagem foi inventariada em 2007 e, segundo os levantamentos realizados na época, seria a única imagem do acervo da primeira capela que ali existia, tendo chegado ao povoado na década de 1930. Confeccionada em gesso, esta imagem se encontrava em bom estado de conservação no momento do inventário.

As outras duas imagens inventariadas fazem parte do acervo da Capela da Tolda e possuem trajetórias bastante diferentes. Inventariada em 2010, a imagem de Nossa Senhora da Abadia seria  procedente de um templo que foi construído na década de 1970 na comunidade da Tolda por devoção a esta santa, frequentemente evocada em comunidades onde existe a exploração do garimpo. No entanto, em princípios da década de 1980, parte do território da comunidade, incluindo a área que abrigava a Capela, foi adquirida pela empresa Gerdau que ali implantou projetos de silvicultura de eucalipto e, em pouco tempo, demoliu a capela. O acervo pertencente a mesma foi transferido para a atual Capela da Tolda que passou a contar também com a imagem de Nossa Senhora da Abadia em seu altar.

Já, a imagem de São Geraldo, inventariada em 2010 como parte do acervo da Capela da Tolda, seria uma das imagens originais que foram adquiridas no momento da construção do templo, na década de 1950. A escolha de São Geraldo como principal devoção da Capela estaria associada a uma homenagem a Geraldo de Souza Vieira que fora a primeira pessoa a ser sepultado no cemitério construída na Fazenda São José e que antecedeu a construção da própria Capela. 









quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Seção III - Bens imóveis dos povoados das Pedras, Silga e Forquilha dos Cabral

Desenvolvido no ano de 2007, o inventário da Seção III compreendeu 16 bens culturais existentes nos povoados das Pedras, Silga e Forquilha dos Cabral. No grupo apresentado a seguir, reunimos 08 bens residenciais e uma escola que foram autorizadas pelos seus responsáveis a serem divulgadas nesta publicação.

Cinco destes bens estão no povoado das Pedras. Segundo as pesquisa feitas para o inventário, nenhum deles foi construído antes da 1960, o que nos oferece um indício que  este período foi marcante para a formação ou consolidação do povoado. Deve-se notar que este processo ocorreu de maneira concomitante ao desenvolvimento dos grandes empreendimentos industriais na região algo que poderia ser explorado em pesquisas futuras.

Um dos cinco bens inventariados é a antiga sede da Escola Municipal Olavo Bilac, construída em 1967, na administração do então prefeito Adão de Almeida e Silva. Segundo o inventário, a construção da escola é mais uma evidência da consolidação desta comunidade no final da década de 1960. Posteriormente, outra edificação, de maior dimensão, foi construída para abrigar a escola local, no entanto, a primeira edificação foi preservada e pode ser visitada até os dias de hoje.

Os outros bens inventariados são a Fazenda das Pedras e as residências do Sr. Gumercindo, Sr. Antônio Macedo e uma residência que se encontrava desocupada no momento do inventário. Os apontamentos feitos no inventário nos levam a crer que a mais antiga delas é o imóvel designado como “residência desocupada”, que fora construída em 1962 e que seria a casa mais antiga do povoado.

No povoado da Silga, além dos templos católicos que se encontram em outro item desta publicação, foi feito o inventário da residência do Sr. Francisco Sales Costa. Segundo inventário, este  seria um bem imóvel com  características estilístico arquitetônicas originais representativas do povoado de Silga. No entanto, durante as pesquisas não foi possível apurar informações precisas sobre a data da construção desta edificação.

Finalmente, no povoado de Forquilha dos Cabral, obtivemos autorização para divulgar o inventário dos imóveis designados como: “Residência da Sra. Euzita”, “Residência de Dona Maria Anita Bezerra” e “Residência de Dona Maria da Conceição Silva”. A história destes bens nos mostra que, provavelmente, o povoado de Forquilha dos Cabral é mais antigo que o povoado das Pedras e da Silga. A residência de Dona Euzita é uma evidência disto, uma vez que este imóvel teria sido edificado na década e 1910, sendo uma dos mais antigos do povoado.


Os dados presentes nas fichas de inventário dos outros dois bens citados não nos possibilitam inferir hipóteses sobre a época de sua construção, mas mostram que ambas foram inicialmente feitas de palha e, posteriormente, passaram por reformas ganhando paredes de adobe.