sábado, 25 de outubro de 2014

Seção IV - Outros sítios naturais da zona rural de Três Marias

Ao longo da realização do IPAC, diversos sítios naturais de interesse cultural ganharam importância destacada nas pesquisas. Na seção IV, além das Veredas apresentadas nesta publicação, foram feitas cinco fichas de inventário que mostram diferentes tipos de interesse cultural sobre os bens naturais. Quatro fichas estão ligadas ao tema dos caminhos dos sertões trimarienses e uma ficha identificou um bem que pode ser considerado fundamental para um saber tradicional popular do sertão.

As quatro fichas que fazem referência aos caminhos do sertão tem ligação direta com as águas que cruzam o município, sendo duas passagens e dois portos. 

As passagens se referem a locais onde os cursos d’água fazem um vau para estradas de rodagem ou de cavaleiros. Estes locais formam belas paisagens cênicas especialmente no período de seca quando o leito dos ribeirões fica aparente e os caminhos ganham maior evidência. Estes sítios foram identificados como “Passagem da Picada” e “Lajeado”. A “Passagem da Picada” representa o ponto de transposição do Ribeirão do Boi por três acessos vicinais que percorrem parte da área rural de Três Marias e aí se encontram. Já, o “Lajeado” é um sítio natural onde se vislumbra o leito rochoso do Ribeirão das Pedras. Este curso d’água, cuja nascente se encontra a 2Km de distância do Lajeado, é um dos afluentes do Rio São Francisco que está a 15Km.

Os portos, por sua vez, representam lugares onde só se poderia cruzar o curso d’água através de um barco, canoa ou meio similar. Os portos inventariados no IPAC foram o Porto do Pontal do Abaeté e o Porto da Barra do Rio de Janeiro. Ambos são significativos para a história local e regional, especialmente antes da implantação da BR-040. 

O Porto do Pontal do Abaeté era muito empregado para o transporte de pessoas e mercadorias que vinham de Pirapora. Implantado na sede da Fazenda Porto do Pontal, este Porto dava suporte às trocas comerciais entre os municípios de Pirapora, Curvelo e Corinto. Por ali chegavam barcos com carne de boi e peixe que eram descarregados e conservados em um frigorífico que foi desativado em princípios da década de 1960. 

O Porto da Barra do Rio de Janeiro também foi muito utilizado para o transporte de pessoas e mercadorias, sendo que ele era local de comércio de mantimentos como arroz, feijão e carne de porco que eram descarregados e seguiam o resto do percurso em lombos de animais. Local destacado na obra de Guimarães Rosa, o Porto na Barra do Rio de Janeiro inspirou uma das mais importantes passagens da literatura brasileira. Trata-se do primeiro encontro entre os personagens Riobaldo e Diadorim na obra Grande Sertão: Veredas, o que projeta sua importância para a história da cultura nacional.

A última ficha que compõe os sítios naturais inventariados nesta seção refere-se a uma nascente de água onde se encontra um material amplamente conhecido nos sertões como tabatinga. A palavra Tabatinga deriva do tupi ´taba´ de casa e ´tinga´ de branca. Assim, a tabatinga compreende o nome popular de uma argila esbranquiçada formada pelo mineral Montmorilorita utilizada como matéria-prima para diversos fazeres tradicionais. Com elevado teor de matéria orgânica, esta argila é típica de solos de várzea, brejos ou locais com água permanente, no presente ou no passado. A área do sítio natural inventariado se insere no entorno do córrego do Salto, na região de sua cabeceira. Neste local, antigos moradores da região retiravam a argila “tabatinga” para fazer vasos, barrear fogões à lenha, revestir paredes, “curar feijão” entre outros fazeres.  









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