sábado, 1 de novembro de 2014

Seção II – Andrequicé: história e a cultura do Sertão das Gerais

Além do belo acervo religioso existente em Andrequicé, foram autorizadas a divulgação de outros 11 bens culturais que remetem a história local e a cultura do sertão das Gerais, sendo estes: sete são bens imóveis, dois arquivos e dois sítios naturais. 

Os sete bens imóveis encontram-se dentro da área urbana do distrito de Andrequicé, sendo seis edificações e um cemitério. Apesar de serem originárias de diferentes épocas, as seis edificações apresentam diversas semelhanças tais como: pavimento único, ausência de muros e presença de quintais. Acreditamos que estas características revelam o processo de formação do espaço urbano de Andrequicé dentro do ambiente sertanejo que se consolidou nos séculos XIX e XX, ou seja, a tipologia das edificações demonstram a forma como o sertanejo local configurou seu espaço urbano.

Dentre as seis edificações, destacaremos duas: a Pensão da Dona Olga e o Memorial Casa de Manuelzão. A Pensão da Dona Olga seria, segundo fontes orais, a edificação mais antiga de Andrequicé. Sua construção remete à primeira metade do século XIX, quando o imóvel foi levantado por ordem de Alexandre Oliveira, patriarca de uma das famílias mais tradicionais de Andrequicé. Sabe-se que esta edificação já teve diversos usos ao longo de sua história, sendo ocupado como residência, venda, correio e especialmente como pensão, função que preserva até a atualidade. Implantado em um espaço privilegiado na paisagem arquitetônica do Distrito, a Pensão da Dona Olga é, hoje, um dos pontos de referência mais importantes para os moradores e para os visitantes que passam pelo local.

O Memorial Casa de Manuelzão também pode ser visto como outro importante ponto de referência da cultura local. Esta casa de aparência simples foi à última residência de Manuel Nardi, o Manuelzão, quando este parou de trilhar os caminhos de tropeiro pelo Brasil. Alguns anos após sua morte, em 05 de maio de 1997, a casa passou a fazer parte do Memorial Manuelzão, no qual se pode conhecer um pouco de como era a vida cotidiana deste sertanista que seduziu Guimarães Rosa com seus “causos” e sabedoria.

O imóvel é composto por duas edificações distintas, além de elementos físicos e simbólicos como o forno junto à Casa de Arreios, a horta e o jardim que circunda as edificações. Originalmente, a edificação era dividida em sala, copa, dois quartos, banheiro, cozinha e varanda de serviço, com fogão a lenha e área de serviço. O projeto de restauração do espaço, realizado no ano 2001, manteve a mesma configuração original, inclusive reconstruindo o fogão a lenha que havia sido demolido, adaptando, entretanto, o banheiro a uma central de controle e quadros de distribuição para atender às necessidades do futuro museu. Os demais cômodos receberam layout para exposição de peças do acervo do Memorial.

Tombada como patrimônio cultural de Três Marias desde 2003, a preservação da Casa de Manuelzão desencadeou um processo de sensibilização para a cultura local que modificou a vida dos habitantes de Andrequicé. O destaque deste processo é a realização da Semana Cultural Festa de Manuelzão que, em 2014, alcançou sua 13ª edição e conta com uma vasta e rica programação cultural. Aberto durante todo ano, o Museu Manuelzão atrai turistas de diversas partes do Brasil e do mundo, especialmente aqueles que buscam encontrar o sertão que inspirou as obras de Guimarães Rosa.

Existem ainda outras quatro edificações de Andrequicé que foram inventariadas e autorizadas a divulgar. Duas teriam origem no século XIX e outras duas em meados do século XX. As mais antigas seriam as residências de Dona Elisa e a residência do senhor Raimundo que apresentam estrutura de madeira e técnicas mistas de alvenaria, através das quais se percebe que as paredes mais antigas são de pau-a-pique e as mais recentes de adobe ou tijolos queimados .As outras duas edificações são as residências de Dona Fia e Dona Lila que apresentam alvenaria de tijolos queimados. Ambas as edificações foram habitadas por personagens significativos da história local, sendo que na residência de Dona Fia morou o vaqueiro Zito que participou de uma das viagens de Guimarães Rosa pelo sertão mineiro. Já a residência de Dona Lila é provavelmente a mais recente de todos os bens inventariados no local, tendo sido construída por volta de 1960 por Manuel Nascimento Filho, renomado político do Distrito de Andrequicé que exerceu três mandatos como vereador e um como vice-prefeito.

Além das citadas edificações, este grupo apresenta o inventário do cemitério de Andrequicé. Este bem representa, de certa forma, a consolidação do Distrito como referência para um grande território que o circunda, atraindo os sepultamentos de moradores de todo o seu entorno. Através de fontes orais, é possível inferir que o primeiro cemitério do Distrito se encontrava próximo da Capela de Nossa Senhora das Mercês e que o cemitério inventariado teria sido criado há aproximadamente cem anos, após uma doação de terras feito por Carlos Alexandre de Oliveira. Na década de 1980, o cemitério passou por uma ampliação ganhando os contornos atuais.

Como mencionado, este grupo apresenta ainda mais quatro bens culturais: dois arquivos e dois sítios naturais.

Os arquivos mostram a evolução histórica local através de documentos cartoriais e de documentos relativos a registros escolares da Escola Estadual Carlos Alexandre de Oliveira.

Um dos arquivos mais significativos da história de Três Marias pertence ao Cartório de Registro Civil e Notas de Andrequicé que possui livros de registros que data de 1891 até a atualidade, nos possibilitando conhecer os atos cotidianos da população de toda região, tais como os nascimentos, óbitos e casamentos. Já o arquivo da Escola Estadual Carlos Alexandre de Oliveira são datados de 1962 até a atualidade, sendo que somente após 2001 os registros escolares passaram a ser organizados e preservados de maneira sistemática.

Encerrando o grupo, chega-se às duas cachoeiras que compõe os sítios naturais inventariados dentro da seção II. Situadas fora da zona urbana de Andrequicé, as cachoeiras do Riachão e do Guará são bastante conhecidas e visitadas por turistas e moradores de Andrequicé. Acreditamos que ambas representam um enclave ecológico em área tomada pelo desmatamento, por pastagens e pela monocultura do eucalipto e sua preservação deve ser acompanhada por um processo educativo e de sensibilização da população local e dos responsáveis pelas terras que lhes dão acesso.






















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